A pesquisa do Jesus histórico tem decorrido, ao longo dos últimos duzentos anos, por duas vias principais que mutuamente se estimulam, mas só ocasionalmente se cruzam: a que procura desmontar a construção cristã de Jesus como homem divino e reconduzir o jovem rabi da Galileia à dimensão aceitável de um carismático líder espiritual; e a que o procura enquadrar, cultural e historicamente, a fim de melhor conhecer aquele em quem os discípulos se confrontaram com um adensamento do mistério divino tal que o anunciaram como Verbo de Deus humanado. A obra que Armand Puig agora tão oportunamente nos oferece, Jesus, uma biografia, insere-se claramente na segunda dessas opções. Trata-se, antes de mais, de uma apresentação minuciosa e serena dos dados históricos disponíveis a respeito de Jesus, “que não pressupõe, necessariamente, qualquer convicção religiosa em quem o lê” (p.638); pelo contrário, a todos dá acesso às investigações em curso.